Entendendo a Dor e o Tratamento
A neuralgia do trigêmeo (NT) é uma condição dolorosa que causa crises repentinas e intensas de dor no rosto. É uma condição relativamente rara, afetando entre 2 e 27 pessoas em cada 100.000 por ano, sendo mais comum em mulheres (2 a 4 vezes mais que em homens) e em pessoas acima dos 50 anos. Casos familiares são observados, sugerindo uma possível influência genética.
Diagnóstico:
O diagnóstico da NT é baseado nos sintomas característicos da dor: crises repentinas e intensas, semelhantes a choques elétricos ou facadas, que atingem uma ou mais áreas do rosto inervadas pelo nervo trigêmeo (oftálmica, maxilar e mandibular). A dor é breve, durando segundos a alguns minutos, e frequentemente é desencadeada por atividades simples como mastigar, falar ou tocar o rosto. Embora exames neurológicos geralmente sejam normais, alterações sensoriais sutis, como formigamento, podem ocorrer. A NT é classificada em três tipos:
- NT Clássica: Causada pela compressão de um vaso sanguíneo no nervo trigêmeo. A artéria cerebelar superior é o vaso mais frequentemente envolvido.
- NT Secundária: Associada a outras condições, como esclerose múltipla, tumores na fossa posterior do crânio, diabetes, deficiência de vitamina B12, infecções (herpes zoster) ou doenças autoimunes (lúpus, síndrome de Sjögren).
- NT Idiopática: Sem causa identificável.
Métodos de Imagem:
A ressonância magnética (RM) desempenha um papel crucial no diagnóstico. É essencial para identificar a compressão neurovascular, especialmente a compressão pela artéria cerebelar superior. Técnicas de RM avançadas, como a 3D-FIESTA, possibilitam a visualização detalhada da relação entre o nervo e os vasos sanguíneos. A RM também é fundamental para excluir outras causas secundárias, como tumores ou esclerose múltipla.
Onde a Dor Surge:
A dor na NT se origina principalmente na zona de entrada da raiz trigeminal (próxima ao tronco cerebral), onde vasos sanguíneos podem comprimir o nervo, causando desmielinização (desgaste da camada protetora de mielina que envolve as fibras nervosas). Essa desmielinização leva a sinais elétricos anormais, gerando dor intensa.
Condições Secundárias:
Várias doenças podem estar associadas ao desenvolvimento da NT secundária:
- Esclerose múltipla (a principal causa secundária).
- Tumores na região da fossa posterior do crânio.
- Diabetes, deficiência de vitamina B12 ou infecções (como herpes zoster).
- Doenças autoimunes (como lúpus ou síndrome de Sjögren).
Tratamento:
O tratamento da NT é individualizado e busca minimizar a frequência e intensidade das crises dolorosas. Geralmente, o tratamento medicamentoso é tentado primeiro:
Tratamento Medicamentoso:
- Primeira linha: Carbamazepina ou oxcarbazepina (estabilizam a atividade elétrica do nervo).
- Segunda linha: Lamotrigina, gabapentina, pregabalina ou baclofeno (se os primeiros falharem ou causarem efeitos colaterais).
- Crises intensas: Fenitoína intravenosa ou bloqueios nervosos com anestésicos locais.
- Toxina botulínica: Opção para casos resistentes.
Tratamento Cirúrgico:
Se o tratamento medicamentoso não for eficaz ou apresentar efeitos colaterais inaceitáveis, a cirurgia pode ser considerada:
- Descompressão microvascular: Cirurgia para aliviar a compressão do nervo por vasos sanguíneos. Eficaz em 70-90% dos casos, com resultados duradouros.
- Procedimentos percutâneos: Termocoagulação (calor para interromper sinais de dor), compressão com balão (pressão mecânica no nervo) e rizólise com glicerol (substância química para reduzir a sensibilidade).
- Radiocirurgia (Gamma Knife): Radiação focalizada no nervo, sem incisão cirúrgica.
É importante ressaltar que a decisão sobre qual abordagem terapêutica adotar deve ser feita em conjunto com um especialista em cefaleias, com base no histórico clínico do paciente, sintomas e preferências pessoais.
Referências
Ashina M, Robertson CE, Srikiatkhachorn A, et al. Trigeminal neuralgia. Nature Reviews Disease Primers 2024;10(39).