Cefaleia em Salvas: Já ouviu falar da dor das estações do ano?
Você sofre com dores de cabeça intensas, que parecem surgir do nada e te incapacitam? Você pode estar vivenciando uma cefaleia em salvas. Essa condição, embora rara, causa dor intensa e requer tratamento específico.
O que é Cefaleia em Salvas?
A cefaleia em salvas é considerada uma das dores de cabeça mais fortes já descritas, que se caracteriza por ataques de dor intensa, de um lado da cabeça (unilateral), na região ao redor ou acima dos olhos ou temporal (na lateral da cabeça). A dor pode ser tão forte que já foi descrita como a pior dor já sentida pelo ser humano.
Sintomas:
Além da dor lancinante, a cefaleia em salvas geralmente é acompanhada de sintomas autonômicos ipsilaterais (do mesmo lado da dor de cabeça), como:
- Lacrimejamento;
- Congestão nasal: Nariz entupido ou escorrendo;
- Rinorreia: Secreção nasal abundante;
- Injeção conjuntival: Olhos vermelhos e inchados.
- Edema palpebral: Inchaço nas pálpebras.
- Sudorese facial: Suor excessivo na testa e no rosto.
- Miose: Contração da pupila.
- Ptose: Queda da pálpebra superior.
As crises de salvas geralmente ocorrem em um lado da face e é conhecida como uma das piores dores já descritas pelo homem. Adaptado de https://www.mayoclinic.org/diseases-conditions/cluster-headache/symptoms-causes/syc-20352080
Características da Dor:
A dor costuma ser descrita com a sigla S.E.A.R. (em inglês): Side-locked, Excruciating, Agitation, Recurrent.
- Intensa e Unilateral: Dor unilateral e extremamente intensa (geralmente avaliada em 10/10). A intensidade da dor traz uma inquietação bastante característica dos quadros de salvas.
- Duração: Ataques que duram entre 15 e 180 minutos.
- Recorrente: Os ataques ocorrem várias vezes ao dia, podendo variar de 1 a 8 vezes, em dias alternados, principalmente na primavera e outono. Os períodos de ataques (clusters) podem durar entre 2 semanas e 3 meses, separados por períodos de remissão que duram entre 6 e 12 meses.
A cefaleia em Salvas é uma doença cíclica e apresenta uma expressiva relação com as estações do ano.
Tipos de Cefaleia em Salvas:
Existem dois tipos principais:
- Episódica: Os ataques ocorrem em períodos que duram de 7 dias a um ano, com períodos de remissão de mais de 3 meses. Este é o tipo mais comum (85-90% dos casos)
- Crônica: Os ataques duram mais de um ano (um ciclo contínuo) ou tem menos de 3 meses de remissão entre os períodos de ataques.
Diagnóstico:
Para diagnosticar a cefaleia em salvas, o médico irá avaliar seus sintomas, realizar um exame físico completo e, possivelmente, solicitar exames complementares para descartar outras causas de dor.
“Red Flags” – Sinais de Alerta:
Certos sintomas exigem atenção redobrada, pois podem indicar a presença de uma causa secundária, exigindo investigação mais aprofundada:
- Dor ocular e retro-orbitária intensa.
- Alterações neurológicas além da região trigeminal (nervos da face).
- Dor de cabeça persistente entre os ataques.
- Duração dos ataques fora do padrão usual.
- Sintomas sugestivos de migrânea.
- Síndrome de Horner persistente (queda da pálpebra, miose e anidrose).
- Frequência de ataques atípica.
- Refratariedade ao tratamento clínico.
Tratamento:
O objetivo do tratamento é aliviar a dor aguda e prevenir novos ataques. As opções terapêuticas incluem:
- Terapia Aguda (para aliviar a crise): Oxigênio (máscara não-reinalante), sumatriptano (injeção subcutânea ou spray nasal) e lidocaína tópica (aplicada na região afetada).
- Terapia Ponte (para controlar a dor enquanto o tratamento preventivo faz efeito): Prednisona via oral (corticosteroide) ou bloqueio do nervo occipital (injeção).
- Terapia Profilática (para prevenir novos ataques): Verapamil, lítio, topiramato, gabapentina, carbamazepina/oxcarbazepina, galcanezumabe e melatonina são algumas das opções. A escolha do medicamento dependerá de fatores individuais que abordaremos durante a consulta.
- Terapias Neuromoduladoras: Estimulação não-invasiva do nervo vago e estimulação do gânglio esfenopalatino.
Prognóstico:
A maioria dos pacientes com cefaleia em salvas apresenta o tipo episódico, com períodos de remissão entre os clusters de ataques. Há uma probabilidade de 13% de transição para a forma crônica, e este risco aumenta em pessoas com mais de 20 anos de doença. Fatores como início tardio da doença, sexo feminino e duração superior a 20 anos estão associados a um prognóstico menos favorável.
Este texto tem caráter informativo e não substitui a consulta com um neurologista. O diagnóstico e o tratamento da cefaleia em salvas devem ser realizados por um profissional qualificado, que poderá avaliar seu caso individualmente e indicar o melhor plano terapêutico para você.
Referências:
Hoffmann, J., & May, A. (2018). Diagnosis, pathophysiology, and management of cluster headache. The Lancet Neurology, 17(1), 75–83.
Goadsby, P. J., Dodick, D. W., Leone, M., Bardos, J. N., Oakes, T. M., Millen, B. A., Zhou, C., Dowsett, S. A., Aurora, S. K., Ahn, A. H., Yang, J.-Y., Conley, R. R., & Martinez, J. M. (2019). Trial of galcanezumab in prevention of episodic cluster headache. New England Journal of Medicine, 381(2), 132–141. https://doi.org/10.1056/NEJMoa1813440